Aqui é Meu Lar desse sábado conversa com a sindicalista e empreendedora do turismo rural Suzana Maggioni Bertuol

A Miriam Caravaggio 95.7 FM, veicula neste sábado, 12, o sétimo programa “Aqui é Meu Lar”, com o tema “Essas Mulheres”, que trata do protagonismo feminino na agricultura e aborda o trabalho da mulher no interior, com sua visão empreendedora, capacidade de gestão, as dificuldades e os avanços diante de uma sociedade conservadora e preconceituosa. O destaque da entrevista dessa edição é Suzana Maggioni Bertuol, moradora da Linha Boêmios, 4º Distrito de Farroupilha. Uma agricultora, sindicalista e empreendedora.

Natural de Caravaggetto, ela se criou na mesma comunidade e estudou até a 4ª Série na escolinha Marechal Floriano. Após, foi morar com uma tia em Nova Milano para cursar o Ensino Fundamental na Escola Santa Cruz. O Ensino Médio ela completou em Caxias do Sul, quando se hospedou no pensionato São José e no Colégio do Carmo, cursou o Técnico em Contabilidade. Trabalhou como secretária no escritório de contabilidade de um tio. Concluído o curso, retornou para casa onde permaneceu por um ano até estudar na Universidade de Caxias do Sul (UCS), onde concluiu o curso de História. Para custear as despesas, trabalhou como professora de Datilografia. Diplomada, regressou para casa e mais tarde se casou com Gilmar Bertuol e desde então reside em Linha Boêmios. Suzana já conhecia Gilmar por ser amigo de seus irmãos e frequentarem as mesmas festas, foi em um desses encontros que o cupido flechou o coração dos dois.

Gilmar nasceu na Linha Boêmios em 1962, na propriedade onde mora até hoje e estudou na Escola Municipal Prefeito Schneider. Oriundo de uma família de três irmãos, o amor pela agricultura vem desde seus avós, que na mesma propriedade cultivavam parreira e complementavam a renda com plantação de milho e batata. Depois que se casou com Suzana, tratou de aumentar a área de parreira e melhorar a plantação antiga, que ainda era cultivada pelos seus pais. Hoje, além de uva, a família cultiva pêssego. A área plantada de uva para vinho e in natura chega a 12 hectares e mais seis de pêssego. Na época da colheita é necessário contratar diaristas, pois somente os membros da família não conseguem atender a demanda. Ele avalia que as maiores dificuldades estão no volume de trabalho e preço dos insumos que eleva os custos. Preocupação que só é superada no momento de fazer as contas, principalmente, quando a safra não sofre interferência das intempéries e pragas.

Felipe Maggioni Bertuol, 27, cursou Agronomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e trabalha com os pais. A opção pela área, segundo ele, está relacionada ao contato com a agricultura. Formado há cinco anos, ele aplica os conhecimentos na propriedade e pretende evoluir, reduzindo os insumos, diminuição dos custos e aprimoramento do solo. Planeja seguir junto à família oferecendo seus conhecimentos, por entender que no momento é importante ajudar. No início do ano ele viveu uma experiência ímpar, foi selecionado no programa Geminação e com mais quatro farroupilhenses, passou um mês em Portugal, no município de Cadaval. Naquele país, eles viveram dias de muito aprendizado na troca de conhecimentos com os portugueses. Cadaval produz vinho e tem grande plantação de pêra. Ele observou que os portugueses valorizam a produção local. No caso de Farroupilha: uvas centenárias como isabel e o moscatel, que deveriam ter maior reconhecimento, na sua opinião. “Focar nos produtos que a gente tem de bom, e evoluir mais nisso”, aconselha.

Marcelo Maggioni Bertuol, 19, cursa Biologia na UFRGS e mora em Porto Alegre, mas nos finais de semana e férias volta para casa ajudar nas atividades agrícolas. Para ser aprovado na Universidade precisou estudar muito, embora não estava decidido em qual curso se inscrever. O jovem Bertuol ainda não definiu se vai seguir na área após concluir o curso ou ficar na agricultura, onde acredita que poderá aplicar parte da Biologia. Por enquanto, o que poder fazer é estudar e ajudar, sem dispensar elogios à mãe. Segundo ele é uma batalhadora e incentivadora para que os negócios da família deem certo e se expanda. Acredita que a tarefa de Suzana não é fácil, pois atender todas as atividades se torna pesado e elogia a mãe pela disposição.

CASA CANJERANA

Suzana quando se casou foi morar com Gilmar na propriedade herdada da família, onde mora até hoje, em uma área de 24 hectares. Mais tarde o casal adquiriu uma terra de um vizinho, por uma questão de segurança financeira precisava aumentar a plantação de uva. Com o passar do tempo, Geraldo Colle e Diva Colle, já com idade avançada, decidiram vender a propriedade ao lado e migrar para Caxias do Sul. A amizade entre as famílias favoreceu a compra dos 20 hectares à Bertuol. No combo, veio um casarão construído na década de 50, com oito quartos, uma sala extensa, cozinha típica, área de serviço, um sótão com mais quatro quartos e um porão feito com pedra talhada. O curioso é que as pedras foram devidamente encaixadas uma à outra, sem qualquer tipo de massa (cimento ou barro). Uma verdadeira obra de arte que incita a pergunta: como foi possível fazer tal edificação, com equipamentos rústicos e limitados da época?

Todavia, a casa está ali, uma construção rara e digna de patrimônio cultural e histórico, devidamente preservado, agora, pela família Bertuol. Suzana conta que foi difícil comprar, pois não dispunham de recursos, mas com esforço o negócio foi concretizado. Diante da posse do imóvel a solução para obter os recursos e pagar o investimento, foi dar continuidade à produção de uva que já havia e construir uma câmara fria. E o casarão? Pergunta que não havia resposta naquele momento. Integrada à diretoria do Sindicato dos Trabalhadores e Agricultores Familiares de Farroupilha (Sintrafar), Suzana aproveita o curso de Turismo Rural, na Linha República, mas extinto posteriormente. O Sindicato deu sequência ao curso e neste período os alunos e uma orientadora foram à casa antiga, onde ainda havia dúvida sobre sua utilidade. Até então servia para alojar parentes na ocasião de visitas. Ao questionar a professora sobre o que fazer com o imóvel antigo, foi orientada colocar uma placa, o pontapé para o empreendimento turístico.

Foi quando iniciou a pousada dando nome ao empreendimento de Casa Canjerana. Nome de uma árvore, em Tupi (árvore da madeira vermelha), muito comum na região de Mata Atlântica e que servia para construção das residências no passado. No contexto da Casa Canjerana, há o Memorial, a primeira casa construída pela família Colle com madeira da Canjerana. O imóvel está cuidadosamente preservado: as peças antigas no seu interior (louças e artigos de mesa e cama, retratam a arte do bordado da época). Há também muitas ferramentas, móveis e equipamentos utilizados no plantio e tratamento da parreira. Além das fotos antigas, o Memorial é decorado com contos espalhados nas paredes de cada compartimento, que fazem referência ao tempo, os quais já premiou Suzana em concurso nacional com seus escritos. É um espaço de memória que foge de um museu tradicional, cada lugar na casa com seus objetos e contos conta uma história. Contudo, não são fatos que aconteceram ali dentro, mas textos imaginários com o objetivo de resgatar histórias da época, inclusive de sofrimento e dificuldades. Ao redor, encontra-se um forno à lenha, taxo antigo, poço de onde era retirado a água, a casa da fada e muitas flores.

O empreendimento recebe turistas que pelo aplicativo Airbnb podem fazer a reserva da casa e desfrutar de um lugar para descanso e que remete ao passado, com todas as características de uma casa da nona. Nesse caso, os próprios locatários se encarregam com os serviços de alimentação. O maior público, até o momento, vem da região Metropolitana de Porto Alegre. Eles recebem todas as refeições necessárias durante a estadia. Outro tipo de hóspede que procura a Casa Canjerana é oriundo dos Caminhos de Caravaggio, sendo que para esse público o atendimento é feito pela proprietária, Suzana. Ela oferece alimentação e transporte desde Caravagetto até o local, assim como para o retorno.

SINDICALISMO

O envolvimento de Suzana com o sindicalismo iniciou ainda em 1987, quando ela tinha 17 anos, participando das lutas que antecederam à Constituição de 1988, por acreditar na organização da sociedade, através de suas instituições. Desde então foi sócia do sindicato, mas o que a levou para dentro da entidade, foi a partir de seu envolvimento como uma das líderes na construção do asfalto na estrada Júlio de Castilhos na Linha Boêmia (VRS-826). Ela lembra que as lutas das mulheres antes da Constituição de 88 foi muito importante, pois a mobilização obrigou incluir na Carta Magna o direito da mulher e do homem como trabalhadores rurais e por extensão a aposentadoria por contribuição rural e não mais somente por idade.

A luta pelo asfaltamento da VRS-826 fez com que ela fosse convidada para fazer parte da diretoria efetiva do sindicato. “Acho que não é exatamente um trabalho, mas uma missão de representar as agricultoras, de garantir esse espaço, essa luta importante que surgiu lá em 1987 em que a gente estava discutindo a sindicalização das mulheres. Eu lembro eu menina participando disso, acho fantástico porque a gente conseguiu implementar essa questão, com as outras mulheres que me precederam ali no sindicato, de continuar que as mulheres tenham representação efetiva dentro do sindicato. Eu acho isso algo fundamental, é difícil de manter. A agricultura embora seja ainda um ambiente de muito machismo, sem as mulheres as propriedades não teriam essa beleza, esse encantamento, esse acolhimento. Acho que é necessário que tenham as mulheres no meio rural, acho importante a valorização das mulheres nesse sentido”, opina.

AQUI É MEU LAR

É um projeto da Miriam Caravaggio 95.7 FM, que propõe aproximar ainda mais a emissora do interior de Farroupilha. Constitui-se em uma proposta específica que envolve esses moradores, com abrangência no município. “Aqui é Meu Lar”, visa discutir a sucessão rural, o protagonismo feminino na agricultura, as condições dos nossos agricultores, envolvimento com as comunidades, o cooperativismo e as políticas públicas e seus direitos.

O programa está em sua quarta edição e é veiculado nos meses de outubro, novembro e dezembro, aos sábados, às 10 horas, na sintonia 95.7 FM, site e aplicativo. A produção e captação do conteúdo, imagens, áudios e vídeos, incluem uma peregrinação semanal pelo interior para conversar com as famílias. Cada ano é definido um tema, em 2019 “Sucessão Rural”, 2020 “O envolvimento das famílias com as comunidades do Interior”, 2021 “Cooperativados: uma relação mútua” e 2022 “O protagonismo feminino na agricultura. Essas Mulheres”.

Confira as fotos da propriedade de Suzana Maggioni Bertuol:

Suzana faz o convite para acompanhar o programa:

 

OUÇA O PROGRAMA COMPLETO – 12/11/2022
https://miriamcaravaggio.com.br/wp-content/uploads/2022/11/SUZANA-12-11-NO-AR.mp3?_=1

 

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Fotos e vídeo: Gleici Trois

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