Aqui é Meu Lar desse sábado vai à capela Nossa Senhora da Saúde contar a história de Sônia Maria Foresti Bohm

A Miriam Caravaggio 95.7 FM, veicula neste sábado, 03, o décimo programa “Aqui é Meu Lar”, com o tema “Essas Mulheres”, que trata do protagonismo feminino na agricultura e aborda o trabalho da mulher no interior, com sua visão empreendedora, capacidade de gestão, as dificuldades e os avanços diante de uma sociedade conservadora e preconceituosa. O destaque da entrevista dessa edição é Sônia Maria Foresti Bohm, moradora da Capela Nossa Senhora da Saúde, Linha 47, 3º Distrito de Farroupilha. Uma agricultora apaixonada pela culinária.

Sônia nasceu e se criou na comunidade de São Marcos. A vida toda se dedica à agricultura, desde o tempo em que viveu com os pais. Estudava na escola da comunidade quando conheceu Sérgio Bohm, que cursava junto a sexta série. Se casou há 37 anos, aos 20 anos de idade e foi embora com ele para a mesma propriedade onde mora até hoje. Como seu único irmão saiu cedo de casa, coube à ela acompanhar os pais no cultivo da uva, milho e criação do gado leiteiro, atividades que a família desenvolvia na época. Sônia tinha o sonho de estudar, mas não foi possível, no entanto nunca deixou de buscar outros conhecimentos além da agricultura, dando vazão a uma de suas habilidades, a culinária.

Sérgio nasceu e se criou na capela Nossa Senhora de Saúde e desde criança, ajudou os pais na agricultura e a Olaria da família. O pai, além de agricultor, era professor, dava aula para as crianças e adolescentes da região. Assim dividia a sala de aula com a atividade agrícola. Sérgio é oriundo de uma família de 12 irmãos. Ele lembra que, quando criança, via o pai preparar a terra para o plantio do trigo, antes de ir à sala da aula, enquanto isso, junto com a mãe e seus irmãos, cuidavam da roça, em alguns momentos, a carga horário de trabalho superava às 15 horas diárias. A fábrica de tijolos da família foi instalada em três locais, começou onde Sérgio mora hoje, mais tarde se transferiu para as imediações e por fim foi instalada na localidade de São Marcos, onde acabou encerrando suas atividades e hoje a terra pertence a um dos irmão de Sérgio.

Ele traz consigo a lição dada pelo pai, que é trabalhar desde os seis anos de idade. “Ele foi professor, mas ninguém dos filhos foi professor. A minha filha é professora agora, pelo menos uma é professora”, destaca. Sérgio não lembra quais séries seu pai lecionava, calcula que teria sido para crianças menores de dez anos, pois naquela época eram colocados todos em uma única sala. Recorda que naquele tempo era tudo difícil, não havia transporte e nem onde estudar, todos casavam entre 18 e 20 anos e cada um seguia sua vida. Mesmo com o empreendimento (Olaria), a agricultura era o carro-chefe com a criação  do gado leiteiro e suínos e a plantação de milho para a alimentação dos animais e da família, que tinha na uva maior rentabilidade. A renda da Olaria vinha somente nos meses de calor, pois no inverno o clima não favorecia para a formatação dos tijolos que sofriam forte influência do frio.

O casal de estudantes não demorou muito para deixar a sala de aula em São Marcos e iniciar a vida juntos. Eles foram morar na casa dos pais de Sérgio e que hoje é um casarão herdado junto com a terra. Depois os pais construíram um novo imóvel ao lado e o casal ocupou a casa paterna por 18 anos. Hoje morando em uma casa nova e mais confortável, o propósito é preservar o casarão antigo para que não se perca parte da história da família. Sônia até ensaia um empreendimento para o futuro, pensa em transformar o imóvel  histórico em uma pousada, ou restaurante, algo que produza renda aliada à preservação do patrimônio, que traz consigo muita história. O porão da casa, que já foi morada do casal, hoje é ocupado por uma pequena indústria de molho de tomate, geleias, bolos e biscoitos, com  matéria-prima orgânica. Sônia vai além, na época da floração dos pessegueiros e ameixeiras, promove piquenique com amigos e familiares embaixo do arvoredo, ou seja, à céu aberto.

Sônia conta que já trabalhou o suficiente na roça e pretende dar outro direcionamento à sua ocupação. Por isso, ela vislumbra utilizar os conhecimentos que adquiriu na área da culinária e na produção de gulosices. A inspiração vem das oficinas e cursos que fez, entre eles, as qualificações promovidas pelo Sindicato dos Trabalhadores e Agricultores Familiares de Farroupilha (Sintrafar). Ela lembra que em um dos encontros houve parceria do sindicato com o SENAR, o qual lhe rendeu muitos elogios e sugestões para empreender na área gastronômica e produção de doces. A ideia está formada na cabeça de Sônia, o que ela ainda não decidiu é qual o tipo de negócio. Uma padaria ou fabricação de doces estão no radar da futura empreendedora rural. No momento, a produção de Sônia é toda comercializada no seu próprio domicílio, as pessoas já conhecem e vão buscar em sua casa.

O casal tem dois filhos, Bruno com 33 anos e Joana com 26. Joana é professora em Farropilha e Bruno reside em Bento Gonçalves, mas trabalha na agricultura com os pais. Sônia lembra com emoção das dificuldades que tiveram que enfrentar logo que se casaram e foram morar com os pais de Sérgio. Um casal novo e formado por dois jovens agricultores, que tinham apenas a vontade de vencer, mas muita cumplicidade entre ambos. Ela reconhece a ajuda de seus pais e dos pais de Sérgio. Revela que naquela época eles não disponham de recursos para iniciar a caminhada a dois.

“Eles tinham bois aqui, e lá com os meus pais a gente tinha mulas e naquele tempo era assim. Quando eu cheguei aqui a gente ia lavrar com os bois, mas os bois eram emprestados dos pais, faziam uma canga de bois e a gente ia lavrar nas parreiras. Eu lembro que um dia eu cheguei desesperada no fim do dia, eu disse, eu acho que vou embora, porque os bois não me obedecem e o marido está bravo. Ai eu penso, nossa! hoje em dia as pessoas desistem por tão pouco. Então eu acho que a gente nasceu para isso, para trabalhar, para poder ter um futuro e mostrar para os filhos que é difícil. Isso quando eu lembro me reforça, me deixa mais feliz, porque a gente consegue mostrar para as pessoas que nada é fácil, mas nada mesmo, então acho que isso é muito importante para as pessoas terem noção de quanto é difícil a gente conquistar alguma coisa”, diz.

Sérgio confessa que quando olha para traz, chega não acreditar que passaram por tantas provações e chegaram na situação que se encontram hoje. Conta que naquele tempo era tudo manual e braçal, utilizava-se o arado e a enxada para limpar a plantação, caso contrário, se perdia a safra. Hoje na área de sete hectares que herdou dos pais, ele tem as benfeitorias e cultiva dois hectares de coberta das variedades niágara e vitória( produz 50 toneladas ano), três hectares de ameixa (80 toneladas/ano) um hectare de kiwi (50 toneladas/ano). Chegou a ter cinco hectares da fruta no passado, quando colhia em torno de 300 toneladas, mas reduziu o pomar por causa das doenças na plantação. A propriedade também está com um hectare de pomar novo de nactarina, mas ainda não começou dar frutos. O cultivo de kiwi lhe rendeu alguns troféus oferecidos pela Fenakiwi em suas edições anteriores. Por não exigir grande quantidade de frio, ele cultiva a variedade MG-06, com a poupa amarela. A uva é comercializada na região, o kiwi e a ameixa são transportados para São Paulo.

Por fim, o casal que começou sua trajetória há 37 anos, depois de se conhecerem na mesma escola, hoje comemora muitas conquistas. Mas claro, reconhece que tudo isso só foi possível com muito trabalho e cumplicidade. Para Sérgio, Sônia é sempre importante e representa tudo, lembra que sempre foi uma guerreira ao seu lado, pois veio de uma família com outro sistema e teve que se adaptar a nova vida. “Tudo é convivência, tem que repartir tudo, compartilhar e ouvir bastante. Tem que ter força de vontade e não desistir na primeira, ser bem persistente para viver na agricultura”, aconselha. Para ele a agricultura hoje favorece aqueles que pretendem viver dela, principalmente os jovens, porque hoje é fácil com os equipamentos, ao contrário de 30 anos atrás quando os agricultores eram todos pobres. “Nos últimos tempos deu uma reviravolta, começamos a comprar máquinas, porque se fosse só a bois, nem nós estávamos aqui, não tinha mais jeito de trabalhar assim”, conclui.

Sônia mantém viva a esperança de se tornar uma empreendedora, para isso conta com o apoio de Sérgio, que certamente virá na medida em que ocorrer um novo direcionamento na propriedade. Para ela, o segredo é persistir sempre, não desistir nunca dos sonhos e colocar amor em tudo o que se faz, que recebe de volta. “Acho que é isso que eu tenho para dizer às mulheres, elas são os tripés da casa, é por aí. A gente tem que incentivar os maridos e os filhos, dar amor e carinho. Tudo tem sua hora para acontecer, eu penso assim”, opina.

AQUI É MEU LAR

É um projeto da Miriam Caravaggio 95.7 FM, que propõe aproximar ainda mais a emissora do interior de Farroupilha. Constitui-se em uma proposta específica que envolve esses moradores, com abrangência no município. “Aqui é Meu Lar”, visa discutir a sucessão rural, o protagonismo feminino na agricultura, as condições dos nossos agricultores, envolvimento com as comunidades, o cooperativismo e as políticas públicas e seus direitos.

O programa está em sua quarta edição e é veiculado nos meses de outubro, novembro e dezembro, aos sábados, às 10 horas, na sintonia 95.7 FM, site e aplicativo. A produção e captação do conteúdo, imagens, áudios e vídeos, incluem uma peregrinação semanal pelo interior para conversar com as famílias. Cada ano é definido um tema, em 2019 “Sucessão Rural”, 2020 “O envolvimento das famílias com as comunidades do Interior”, 2021 “Cooperativados: uma relação mútua” e 2022 “O protagonismo feminino na agricultura. Essas Mulheres”.

Confira as fotos da propriedade de Sônia Maria Foreste Bohm:

Sônia faz o convite para acompanhar o programa:

 

OUÇA O PROGRAMA COMPLETO – 03/12/2022
https://miriamcaravaggio.com.br/wp-content/uploads/2022/12/SONIA-BHOM-03-12-NO-AR.mp3?_=1

 

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Fotos e vídeo: Gleici Trois

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