Aqui é Meu Lar deste sábado conta a história da família Trois que foi morar na cidade e depois de um ano voltou para o interior

A Miriam Caravaggio 95.7 FM, veicula neste sábado dia 14 de outubro de 2023, o terceiro programa “Aqui é Meu Lar”, com o tema “Pés no interior, olhos na cidade. Volta às origens” O tema aborda pessoas que vivem no interior e estudam na cidade, ou que por muito tempo tiveram uma vida urbana e decidiram ir para o interior produzir, nascidos, ou não no interior. Os destaques da entrevista, Deocir Trois, 67 anos e Marilia Trois, 64 anos, moradores da Capela de Todos os Santos, conhecida como Busa, (1º Distrito de Farroupilha). A história de uma família que se aventurou ir para a cidade, mas por razões que só a natureza pode explicar, retornaram para a agricultura.

Deocir nasceu na mesma comunidade e na propriedade onde vive até hoje, local em que moraram seus pais. Em 1992, aconselhado por um cunhado, decidiu trabalhar em Caxias do Sul, na empresa Assessórios Keko, emprego arranjado pelo familiar. Foi quando arrumou a mudança e partiu para a cidade grande. O curioso nessa passagem da vida de Deocir e Marilia, foi o transporte da casa em cima de um caminhão até Caxias, no bairro Monte Castelo, onde foram morar. Ele conta que no momento que recebeu o convite para trabalhar em Caxias, não respondeu na hora, mas depois de alguns dias e por ter pensado muito, resolveu seguir a recomendação do cunhado. Lembra que transportar a casa em cima do veículo não foi uma tarefa fácil, devido a altura do imóvel na carroceria do caminhão, pois tiveram que fazer manobras para não se enroscar nos fios de alta tensão da energia elétrica.

Chegando em Caxias do Sul, a casa foi colocada em cima de escoras de madeira até chegarem os especialistas para instalar o imóvel em condições de ser habitado. “Quando cheguei lá eu disse graças a Deus chegamos, eu fiz até o sinal da cruz, não acredito que a casa já tá aqui”, agradeceu. O próximo passo foi nivelar a casa no terreno que havia adquirido no bairro. Com a edificação no prumo, foi construído um porão. Deocir conta que durante o dia trabalhando na empresa, tudo transcorria normalmente, mas o problema era quando chegava em casa à noite.

“Eu jantava, assistia a TV e ia dormir, mas quando levantava de madrugada, uma ou duas vezes e ia no banheiro, parecia tranquilo, pensava que eu estava aqui em baixo, aqui no meu lugar, aqui na Busa, de repente eu via aquela claridade ali da janela, será que eu estou sonhando?, o que que está acontecendo?, olhava para fora para todas aquelas casas, aquela iluminação, não tá acontecendo nada, é verdade eu estou morando aqui. Tá, de manhã levantava e quando ia na fábrica passava tudo, no trabalho a gente esquece, mas na volta para casa, nos primeiros meses até que estava mais ou menos, mas depois começou me dar um nervosismo, digo, não dá mais”, lembra.

Deocir se questionava se contava ou não para sua esposa Marilia, o que estava acontecendo. Passados alguns dias decidiu abrir o jogo para a esposa, que não estava muito de acordo em retornar. “Olha aqui eu não fico mais, porque não vai dar. Eu disse não fico mais, comecei a lembrar das minhas terras aqui embaixo e lembrar do meu pai e da minha mãe, tá louco. Não deu outra, quase que nós se encrencamos, mas daí, depois se acertamos”, confessa. Deocir conta que nos finais de semana vinha visitar sua mãe e rever as terras, um determinado dia decidiu que era a hora de retornar, no entanto, ao comunicar a esposa da decisão, quase que a perdeu, mas foi incisivo a ponto de condicioná-la a vir junto ou ficar morando em Caxias sem a sua companhia. “Então Graças a Deus voltemos, olha se mesmo dissesse que não, a minha mala já estava pronta. Eu disse eu vou embora e fico com a minha mãe, depois tu pensa, tu vem depois né, mas ela aceitou e veio”, comemora.

No retorno às origens e já com a experiência da cidade, por onde ficou um ano, convicto de que Busa é seu lar, Deocir reinicia uma nova fase consciente de que nasceu para a agricultura e faz dela seu habitat. Hoje, agradece a mãe que o aceitou de volta e sua esposa que decidiu acompanhá-lo, para a terra onde nasceu e seguir a vida na Capela de Todos os Santos. Para ele o emprego e o dinheiro que ganhava na cidade não tinham valor algum, diante do amor que tem pela agricultura e especialmente pela sua propriedade. “O emprego e o dinheiro para mim não prestou para nada, tinha uma coisa que me chamava de volta”, recorda.

Marília Trois nasceu em Monte Bérico (2º Distrito de Farroupilha), conheceu Deocir há 37 anos e quando se casou foi morar com ele na Busa. O casal tem uma única filha, Vânia Trois que é radialista na Rádio Miriam Caravaggio. Ela mora na cidade, mas não se afasta dos pais, divide o tempo entre o seu apartamento em Farroupilha e a casa paterna. Marilia sempre acompanhou o marido na agricultura. Antes de ir morar em Caxias ela ajudava nos parreirais. Na cidade foi trabalhar na área de limpeza doméstica. Ao retornar para a Busa, seguiu trabalhando na agricultura, especialmente nos parreiras e  plantação de milho. Há 17 anos trabalha na Divino Sabor, uma empresa de doces e salgados, próximo de sua casa.

Até se casar com Deocir sempre morou com seus pais em Monte Bérico e trabalhava na agricultura. Na época em que se casou tinha 27 anos. Lembra que quando retornaram de Caxias para a Busa, a sogra os acolheu em sua casa enquanto construíam a nova residência onde moram até hoje. “Ela disse que nós poderíamos voltar que um pedacinho de terra ela ia dar para nós, ela ia deixar de novo a terra. Nós já tínhamos nosso pedaço, mas quando voltamos ela devolveu a terra e nos deu mais um pedaço de novo“, conta. Marilia é a única dos seis irmãos que permanece na agricultura, embora na época em que foi para Caxias, seu interesse era de ficar na cidade, mas decidiu acompanhar o marido. “Eu ameacei ele, eu disse que eu não vinha, ai eu disse bom, se não tem jeito eu venho, eu tentei ameaçar para ver se ele ficava, mas não deu certo”, confessa. Marilia não se arrepende de ter voltado, pois conseguiram se reconstruir e até arrumou trabalha na Divino Sabor.

Vânia conta que sempre gostou de morar na Busa com os pais, embora nos últimos três anos tem sua residência oficial na cidade. Ela não tem uma vida voltada exclusivamente para a agricultura, pois hoje é locutora na Rádio Miriam. Formada em Publicidade e Propaganda, na Faculdade Cenecista de Bento Gonçalves, já trabalhou em outras empresas como mídia digital. Não tem lembranças de sua vida em Caxias, pois tinha quatro anos quando seus pais foram para a cidade, mas um fato marcou a vida da radialista, em Caxias, ela foi vítima da mordida de um cachorro em uma de suas orelhas. Esse acontecimento ela guarda ainda vivo na lembrança. Apesar de viver parte do seu tempo na cidade, confessa que tem preferência em ficar junto com seus pais no interior, pois gosta do contato com a natureza.

No retorno para a Busa, Deocir seguiu a atividade nas parreiras em uma área plantada que pertencera a sua mãe. No entanto, com pouca gente para ajudar no cultivo e com a infecção da pérola (praga que afeta os parreirais), ele decidiu erradicar o pomar e partir para a plantação de milho para consumo e venda. Lembra que tinha que contar com ajuda de parentes e vizinhos parta a colheita. Somado os transtornos que a atividade lhe causava a pouca margem de lucro, chegou a conclusão que não era mais viável seguir cultivando uva. Depois com a plantação de milho para o comércio também foi suspensa devido a pouca rentabilidade, pois entende que não vale a pena, não tem preço e o custo para o cultivo é muito alto, mas pretende retornar quando o preço do produto for favorável. No momento cultiva alimentos para consumo, como mandioca, batata, hortaliças, moranga e outros.

Deocir é um homem voltado essencialmente para a agricultura, apesar de no momento se dedicar a produção de alimentos somente para o consumo da família, ele segue desenvolvendo atividades na área, cuida de uma chácara próxima de sua residência, soma-se a isso, o seu trabalho de limpeza e cuidados no cemitério da comunidade e nos períodos de poda, amarra parreira e colhe uva para produtores da região. Ele gosta muito da vida que leva no interior, pois ama estar em contato com a natureza e com a terra. Confessa que quando jovem tinha vontade em estudar, mas devido as dificuldades da época, não conseguiu realizar seu sonho, mas concluiu a quinta série na escola em Caravaggio.

Vânia apesar de ter sua moradia oficial na cidade, deseja futuramente fixar residência no interior, por considerar um ambiente agradável e que oferece qualidade de vida, ainda que para trabalhar na cidade, existam os desconfortos na mobilidade. Para ela, a convivência na cidade é muito fria, os vizinhos nem se conhecem mesmo morando um na frente da porta do outro, nos apartamentos. Ela descreve que no interior os vizinhos se ajudam e estão sempre conversando e compartilhando ajudas e dificuldades.

A família Trois segue a vida na agricultura de uma forma diferente do tradicional, onde a renda acontece a partir da produção de hortifrutigranjeiros, ou pecuária. No caso de Deocir, a renda principal vem do trabalho em épocas de poda, colheita e aposentadoria de Deocir e Marilia. Soma-se a renda, o emprego de Marilia na Divino Sabor e os trabalhos que Deocir executa em épocas de safra nos parreirais. Vânia tem sua própria independência financeira. Com a experiência de alguém que já morou na cidade, Deocir recomenda àqueles que desejam vida urbana, para que estejam preparados com uma profissão e condições de ter sua própria moradia. “Se chega na cidade e não tem um emprego, uma casa para morar e estudo, não dá certo, na fábrica hoje se alguém não tem estudo não funciona, então fica por ai. Agora no interior é diferente, alguma coisa a gente faz, não precisa ter tanto estudo para trabalhar. O conselho que eu dou, ter que ter uma casa lá para morar, um pouco de dinheiro, se não, não vai funcionar. No interior se a coisa apartar, tem a terra para plantar. Eu ainda vou dizer o que disse para muitos, olha do jeito que a coisa vai, tem muita gente com estudo que vai ter que pegar na enxada”, avisa.

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